Juiz briga na justiça para ser chamado de “Doutor”
O Globo de 10/11/2004, publica, na página 14, a notícia sobre um juiz de São Gonçalo que entrou na justiça contra a síndica do seu prédio, para obrigar os empregados do condomínio a tratá-lo de “Senhor” ou “Doutor”.
A razão de tal comportamento por parte do juiz é explicada com muita clareza por Marilena Chaui na aula inaugural intitulada “Educação: direito do cidadão e não mercadoria” da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - FFLCH/USP, São Paulo, 20 fevereiro de 2003, da qual reproduzo a parte pertinente ao assunto.
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Conservando as marcas da sociedade colonial escravista, a sociedade brasileira é fortemente hierarquizada: nela, as relações sociais e intersubjetivas são sempre realizadas como relação entre um superior, que manda, e um inferior, que obedece. As diferenças e assimetrias são sempre transformadas em desigualdades que reforçam a relação mando-obediência. O outro jamais é reconhecido como sujeito nem como sujeito de direitos, jamais é reconhecido como subjetividade nem como alteridade. As relações, entre os que se julgam iguais, são de cumplicidade; e, entre os que são vistos como desiguais, o relacionamento toma a forma do favor, da clientela, da tutela ou da cooptação, e, quando a desigualdade é muito marcada, assume a forma da opressão.
Podemos resumir os principais traços de nosso autoritarismo social considerando que a sociedade brasileira se caracteriza pelos seguintes aspectos:
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- fascínio pelos signos de prestígio e de poder: uso de títulos honoríficos sem qualquer relação com a possível pertinência de sua atribuição, o caso mais corrente sendo o uso de "Doutor" quando, na relação social, o outro se sente ou é visto como superior - "doutor" é o substituto imaginário para os antigos títulos de nobreza do período colonial e da monarquia; ou da manutenção de criadagem doméstica cujo número indica aumento (ou diminuição) de prestígio e de status, ou, ainda, como se nota no desprezo pelo trabalho manual e na valorização dos diplomas que credenciam atividades não manuais, etc. O fascínio pelos signos de prestígio tem como contrapartida o desprezo pelo trabalho manual.
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1 Comments:
Juiz Burro!
Doutor é título acadêmico e não pronome de tratamento!!!
cada coisa que acontece
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